Foto: Ricardo Stuckert/PR
BRASĂLIA, 3 de janeiro — EmissĂĄrios do Itamaraty foram informados pelo governo Lula de que Brasil, se convidado, enviarĂĄ oficialmente sua embaixadora em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira, como representante do governo brasileiro na cerimônia de "posse" do ditador venezuelano NicolĂĄs Maduro, que acontecerĂĄ no próximo dia 10 de janeiro.
Ainda não se sabe se representantes estrangeiros estarão presentes na cerimônia, jĂĄ que o baixo nĂșmero de participantes não faria bem à propaganda do evento.
Embora nunca tenha reconhecido formalmente o "resultado" das "eleições" venezuelanas de julho do ano passado, o governo brasileiro, que hĂĄ seis meses aguarda a apresentação das atas eleitorais prometidas pelo regime local, também nunca se posicionou sobre a fraude eleitoral denunciada por praticamente todos os paĂses da região – com exceção da BolĂvia, por motivos polĂticos –, além de órgãos internacionais, da ONU e entidades como o Centro Carter, que, com autorização do regime venezuelano, atuou como observador internacional no paĂs e revelou as irregularidades do Ășltimo "pleito", afirmando que a eleição "não pode ser considerada democrĂĄtica".
Relevante: 83,5% das atas oficiais foram divulgadas pela oposição e confirmadas por organismos internacionais, mas jamais foram avaliadas – ou sequer visualizadas oficialmente – pelo governo brasileiro.
A Ășltima cerimônia de "posse" do ditador venezuelano NicolĂĄs Maduro, realizada em 2019, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, não contou com representação oficial do Brasil, mas teve a presidente do atual partido governista PT, Gleisi Hoffmann, tratada como representante informal.
À época, sob crĂticas, Gleisi afirmou ter comparecido à "posse" para "marcar posição contra a grosseira relação do governo Bolsonaro com a Venezuela".
No Ășltimo dia 26/12, vĂĄrios ditos movimentos sociais, entre eles a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia e a famosa ABI, a Associação Brasileira de Imprensa, que ganhou destaque em novembro ao divulgar duas cartas, uma pedindo a prisão de todos os envolvidos nos atos de 08/01 e outra solicitando a regulamentação das redes sociais "para combater o discurso de ódio e a desinformação", assinaram uma carta pĂșblica na qual pediram formalmente que o presidente Lula "reconheça a legitimidade" da "reeleição" do ditador venezuelano NicolĂĄs Maduro.
O argumento exposto no pedido foi o de que "o reconhecimento dessa eleição não apenas reafirma nosso compromisso com o respeito à soberania venezuelana, mas também fortalece os laços de amizade e cooperação que historicamente unem nossas duas nações".
A carta também fala dos "riscos que a ascensão de movimentos extremistas na Venezuela representa para toda a região" como justificativa para que o governo brasileiro legitime o regime venezuelano, que hĂĄ muitos anos tem prendido diversos opositores, utilizado centros de tortura amplamente conhecidos para deter crĂticos, incluindo inĂșmeros jornalistas, e é acusado, com evidĂȘncias, por vĂĄrios órgãos internacionais de crimes contra a humanidade.
Também assinaram a carta: Afronte – Movimento Nacional de Juventude, Centro Brasileiro de Solidariedade Aos Povos e Luta Pela Paz, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, Confederação Nacional das Associações de Moradores, Federação Árabe Palestina do Brasil, Instituto Brasil Palestina, Levante Popular da Juventude, Marcha Mundial das Mulheres, Movimento Brasil Popular, Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento pela Soberania Popular na Mineração, União Brasileira de Mulheres, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, União da Juventude Socialista, União de Negros pela Igualdade e União Nacional LGBT.
Posição do partido de Lula: Em outubro de 2024, o partido governista PT (Partido dos Trabalhadores) assinou, sem divulgar para evitar prejuĂzo polĂtico nas Ășltimas eleições municipais brasileiras, uma resolução do Foro de São Paulo que reconheceu o ditador NicolĂĄs Maduro como vencedor das "eleições presidenciais" venezuelanas de julho.
O documento foi produzido e assinado por partidos de esquerda no México, durante um evento do Foro de São Paulo, com a presença de Mônica Valente, integrante da executiva nacional do PT e SecretĂĄria Executiva do Foro de São Paulo.
Antes disso, em julho, o partido chegou a divulgar uma nota oficial, no próprio site do PT, saudando a "vitória" de Maduro.
Na nota, que foi assinada pela Executiva Nacional do PT, o partido afirmou que as "eleições" na Venezuela foram uma "jornada pacĂfica, democrĂĄtica e soberana", destacando que o CNE (equivalente ao TSE), controlado pelo regime local, daria "um tratamento respeitoso a todos os recursos recebidos conforme a Constituição".
Em meados de agosto, durante uma viagem ao sul do Brasil e em entrevista à RĂĄdio GaĂșcha, ao ser questionado sobre a Venezuela, Lula, que estĂĄ em seu terceiro mandato presidencial nesta mesma sigla polĂtica, rechaçou a nota pĂșblica de seu partido, afirmando que não concordava com seu conteĂșdo. Apesar do posicionamento do mandatĂĄrio brasileiro, a entrevista ganhou destaque nos noticiĂĄrios após Lula afirmar que não considera a Venezuela uma ditadura, mas sim um "regime muito desagradĂĄvel".
(Matéria em atualização)
Fonte: O Apolo Brasil